CPCJ do Seixal participou no Encontro de Trabalho- Guia de Recepção de Comunicação de Situação Susceptível de Configurar Agressão Sexual contra Criança
O procurador da República Rui do Carmo defendeu no Encontro de Trabalho, realizado a 04 de Novembro, em Coimbra, a necessidade de criação de um novo modelo de intervenção junto das crianças que são alvo de agressão sexual, "recentrando nos procedimentos à vítima".
A importância da criança agredida "não tem sido acautelada" estando a intervenção "centrada no processo e não na vítima", sublinhou Rui do Carmo, que está a coordenar, no âmbito do Observatório Permanente da Adopção do Centro de Direito da Família (OPACDF) da Faculdade de Direito de Coimbra, a criação de um 'Guia de Recepção de Comunicação de Situação Susceptível de Configurar Agressão Sexual contra Criança'.
Importa "que haja uma separação" entre a área da proteção e a área criminal de forma a que "aquela (protecção) não seja subalternizada em favor da área criminal", disse Rui do Carmo, que falava aos jornalistas à margem de um encontro de trabalho sobre a intervenção do sistema de justiça nas situações de agressão sexual a crianças, promovido pelo OPACDF.
Um novo modelo de intervenção implica alterações legislativas, reconheceu Rui do Carmo, advertindo, no entanto, que no atual quadro legal "já é possível coordenar procedimentos".
É necessária coordenação entre todas as partes envolvidas na intervenção junto das crianças vítimas de agressão sexual pelo que e "se está a estudar" e a "procurar um novo modelo" no qual se integra aquela guia, salientou o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), Armando Leandro.
Para "evitar vitimizações secundárias" das vítimas, é preciso "articular bem todas as atuações", defendeu o presidente da CNPCJR, considerando que também tem de haver "muita exigência e muito rigor na prevenção" do fenómeno de "grande complexidade e gravidade" que é a agressão sexual da criança.
"A não convergência" e "a falta de estratégia" dos "vários agentes envolvidos no problema" têm resultado, na prática, na vitimização da vítima, sublinhou também o juiz conselheiro e antigo ministro da Justiça Laborinho Lúcio, outro dos participantes na reunião, advogando a necessidade de "concertar Ministério Público, Polícia Judiciária, Medicina Legal e Segurança Social".
O "Guia de Recepção de Comunicação de Situação Susceptível de Configurar Agressão Sexual contra Crianças", apresentado e debatido durante o encontro , em Coimbra, é um instrumento que visa contrariar a "aparentemente inexplicável contradição" da ação das diversas partes que intervêm junto das crianças vítimas de agressão sexual.
A comunicação entre "procedimentos criminal e de promoção e proteção dos direitos das crianças tem-se revelado difícil", as diversas entidades envolvidas têm "objetivos distintos e regras de atuação diferentes", afirmou Rui do Carmo, acreditando que o guia pode contribuir para defender o interesse da vítima, que "nem sempre é suficientemente acautelado".
O novo guia constituído por um conjunto de "linhas orientadoras, cientificamente sustentadas e legalmente bem balizadas" e de promoção da "uniformização de procedimentos", deverá entrar em breve na fase de validação com a sua aplicação prática.
Fonte: Agência Lusa
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